terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Episódios animais

Trabalhar com animais selavgens nos deixa suceptíveis a imprevistos e acidentes. Comigo já aconteceram alguns.
Os animais apesar de “domados” , claro, mantém suas características e instintos selvagens. Suas brincadeiras machucam, e muito, e seu comportamento pode mudar drasticamente em questão de segundos, incluindo os animais mais queridos e  carinhosos mas o importante é nunca levar pro lado pessoal  
Outro dia fui caminhar com Dolce e Gabana, uma dupla de leopardos jovens e hiperativos. Existem certas áreas na reserva específicas para esses passeios. E quase todos os dias levamos os animais que são mais domado para passear, afim de proporcionar a maior proximidade com a natureza para eles, em certos casos é uma forma deles terem contato com outras vidas selvagens, por exemplo guinus e antilopes, dessa forma desenvolvendo seus instintos de caça no caso dos grandes felinos,  além de ser um exercício a mais. Mas como eu disse imprevistos sempre estão sujeitos a acontecer.
Nessa caminhada com os leopardos, fomos em um grupo de 6 garotas, mas em algum momento 3 delas desapareceram, Dolce foi para um lado acompanhado por uma das voluntárias, e eu fui atrás do Gabana, pois perdê-lo de vista seria extremamente fácil  uma vez que a vegetação africana da região é basicamente de arbustos, o que a torna igual em todo lugar que você olha, e se eu o perdesse , para achá-lo seria “um custo”.  A boa notícia é que eu não o perdi, mas nesse separar dos 2 leopardos todo mundo se perdeu um do outro, e por três horas eu fiquei perdida no meio da savana africana o dia estava ensolarado, por volta de 40°C, sem água ou relógio, apenas com um leopardo, estando sempre atenta para suas brincadeiras perigosas  e ao mesmo tempo atenta para as cobras, que são um perigo aqui, e principalmente para o principal perigo: os enormes espinhos da acácias.



                                         Espinhos das Acácias africanas
    

 
                                                       Gabana

No mesmo dia de tarde estava na jaula da Cloe, uma bauíno de nem 2 anos, ou seja filhote e muito mimada.  Ela tinha acabado de mudar de jaula para uma mais distante e com nenhum animal por perto então estava muito só e triste. Nós voluntários estávamos revesando o tempo entre as tarefas pra ficar com ela,  afim de diminuir sua solidão, e lá estava eu curtindo meu momento com Cloe quando uma outra voluntária chegou e entrou na jaula pra ficar com nós duas; foi quando o caos começou. A menina esqueceu de fechar a jaula! Pecado mortal nesse ambiente de trabalho. Em menos de 5 segundos tudo aconteceu! Quando ela entrou a Cloe que estava no meu colo foi pro  chão, passou pela Celine, viu a porta aberta olhou pra nós duas e saiu em disparada pra “liberdade’.
 O motivo desses animais não estarem em liberdade é porque não é uma opção, no caso ela é um bebê e nunca sobreviveria, e essa falsa liberdade momentânea é um grande perigo pois do lado de fora existem outros animais que podem atacá-los, por exemplo o Atheno, um guepardo na adolescência que ia adorar um pedaço da Chloe, entre outros vários.
Apesar de quase trágico o episódio foi muitoengraçado pois a Celine, em choque pelo erro que acabara de cometer congelou, me olhou com olhos arregalados e pediu desculpas! Eu comecei a rir pela reação dela e ao mesmo tempo  saí em disparada atrás da Cloe e gritando para Celine “Corra para o outro lado, temos que cercá-la”. A Cloe claro adorou aquilo tudo, ela corria olhava pra gnt como que para conferir que estávamos atrás, mudava a direção, dava dribles incriveis em nós duas até que ela cometeu um erro muito perigoso: entrou no cercado dos mongooses, animais pequenos, que lembram um pouco os suricatos. Ao entrar no cercado ela foi imediatamente atacada e desesperada gritando e chorando não conseguia sair. Nesse momento consegui pegá-la e tirá-la de lá, mas ela muito assustada tentou me atacar. Felizmente ela não conseguiu me morder, (um babuíno adulto tem a força de 7 homens e caninos enormes que facilmente matariam uma pessoa, a Cloe é filhote mas sua mordida já é bem potente). E claro que isso tudo estava  acontecendo a 20 metros de onde nosso chefe estava,  ao telefone,   de costas para situação!
De volta a jaula conseguimos acalmá-la e tudo terminou bem.
Mas aqui nem sempre existe um final feliz. Como todo mundo que vem pra cá é apaixonado por animais, a morte de um é sempre sentido por todos.  Infelizmente em uma semana perdemos 2 animais muito queridos. O cactos, que era um burrinho filhote que alimentávamos todo dia, ainda na mamadeira, mas nos últimos 2 dias eu estava em outra tarefa ajudando com limpeza das águas dos animais, e de aluma forma cactos teve leite nos pulmões, morrendo no dia seguinte. O problema maior é que ele foi guardado no cooler para podermos enterrá-lo no dia seguinte, porém os bushman encarregados das carnes não sabiam e alimentaram os wild dogs, cachorros selvagens ,espécie em risco de extinção aqui, com o cactos. Isso foi um choque para todos, aqui não existe “desperdício”!
 E alguns dias depois Romeo, um caracal ou lince-do-deserto, cego e muito dócil, durante a noite foi picado por uma cobra e sem condições de sobreviver teve de ser sacrificado no dia seguinte pois sua pata picada estava necrosando e passando para todo o corpo.
                                             Romeo, lince-do-deserto

Lidamos com vida selvagem, e pode ser bem duro pra nós de coração mole, mas ao mesmo tempo às vezes acontecem coisas mágicas que dão ânimo pra continuar, como ontem por exemplo. Levamos o Atheno para sua primeira corrida. Um guepardo adulto consegue por alguns segundos correr na velocidade de até 120 km/h; como ele ainda é jovem não consegue ser tão veloz mas mesmo assim foi um momento incrível de ver e participar.
 A corrida aconteceu da seguinte forma, eu na garupa de uma caminhonete estava segurando uma longa corda com uma garrafa vazia na ponta, e o Atheno no chão tranquilo. Ele como todo felino, adora brincar com coisas em movimento, então quando o carro começou a andar ele despertou e interessado veio atrás da garrafa no chão. Em seguida o carro começou a correr, e aí o guepardo que existe dentro do Atheno entrou em ação e saiu em disparada atrás. Chegou a 80 km/h!  Se eu viver essa cena aqui de novo várias vezes, tenho certeza que ela sempreserá fantástica, mas por ser a primeira vez na vida do Atheno, é claro que dá “um gosto a mais”!!

                                        Atheno descansando pós corrida

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