segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Deserto da Namíbia

Durante as 04 horas de viagem entre Windhoek e a fazenda que estou indo passar uma semana foi possivel observar a mudança gradativa na paisagem.
Quando imaginamos deserto pensamos nas dunas avermelhadas sem nada visível no horizonte além de areia. Em partes do deserto da Namibia e principalmente o da Kalahari essa realmente é a realidade mas não nessa parte dele.
 A região que estou do deserto é formada por gravel plains, chão  bem rochoso com uma vegetação bem específica, mas como todo deserto muito quente e muito seco também.
A fazenda chamada Vergenoeg, que significa longe o suficiente, tem cerca de 25 mil hectares,  nenhum animal e fica a 95 km de Swakopmund, cidade na costa oesta da Namíbia, muito frequentada por turistas
O dono é amigo de Schalk van der Merwe, filho de Marieta van der Merwe criadora da reserva de Harnas onde trabalhei nas últimas 03 semanas.  A idéia inicial era trazer 70 cavalos árabes para cá porém após pesquisas eles descobriram que não existe água suficiente na região para que esses cavalos sobrevivessem aqui, então no momento o foco maior é em pesquisa da fauna local (isso inclui principalmente lagartos, cobras, insetos e aves), e farm work ,que é a construção da estrutura de uma reserva, por exemplo cercados, pois no futuro alguns dos animais que existem em Harnas como Penta e Pepino, 2 chacais, poderão ser libertados aqui após um período de adaptação.
O trabalho é pesado, mas o pôr e nascer do sol sempre compensam!












                                  Uma surpresa no caminho, elefante do deserto se refrescando num dia quente


Rock python








   

A Partida

É incrivel a capacidade de nos adaptarmos à diferentes situações. Mais ainda o quão rápido nos apegamos às pessoas em tão pouco tempo.
 Essa semana dei adeus ao meu primeiro projeto, após 3 semanas, e não achei que fosse ser tão dificil. E claro, tinha que ter uma última emoção. Ao chegar próximo à area do lapa, onde tomamos o café da manhã o Herman(um dos managers dos voluntários) ao nos  ver começou a gritar nos mandando voltar porque Lost, aquele leopardo que estava a solta uma semana antes, tinha fugido de novo, e dessa vez no lapa. Ao me virar pra sair do caminho, a menos de 10 metros vi o próprio Lost olhando em minha direção. O verdadeiro perigo dos leopardos é que diferente de muitos predadores, entre as opções de ameaçar ou atacar o leopardo sempre escolhe o ataque. Felizmente não dessa vez.

Nossa saída atrasou por volta de 03 horas graças a esse acontecimento, que mais uma vez foi  proposital. A jaula em que Lost estava temporariamente,  que ficava  trancada mas sem cadeado  foi encontrada aberta.
Após esse emocionante começo de dia, vieram as verdadeiras emoções. Com o atraso de 3 horas pude despedir de novo dos meus animais queridos, Audrey a vervet cega de 23 anos,  uma senhora muito temperamental que eu apaixonei, Atheno meu querido guepardo moleque, Fattie a raposa "orelha de morcego" (Otocyon megalotis) um dos animais mais doces que eu ja conheci, Izziepoop meu filhote vervet lindo que quando alguém entrava na minha companhia era atacado, e sem entender porque que eu nunca podia ter uma companhia pra brincar com eles fui pesquisar com o pessoal que trabalha lá e  descobri que ele e sua irmã Lani me viam como a fêmea alpha e atacavam os outros que entravam comigo para me impressionar e proteger! E por último Adão, Eva, Betty e seus 04 filhotinhos de suricatos que também me tratavam como parte do bando. Foi  uma manhã dificil, mas aí para minha surpresa veio a parte quase tão dificil quanto: a despedida dos meus companheiros voluntário.
Acordando junto, trabalhando junto, almoçando e dormindo juntos fato é que aqui não existe privacidade. Em uma reserva de quase 10 mil hectares era quase impossivel encontrar um lugar pra ficar só, mas graças a isso também foi impossível não me apegar e construir amizades que espero resistam às enormes distâncias entre nossos diferentes países.
Originalmente ficaria 04 semanas em Harnas, porém surgiu a oportunidade de passar uma semana com tudo pago (mas trabalhando claro) no deserto da Namíbia, também conhecido como o deserto mais antigo do mundo, então apesar de querer ficar mais tempo em Harnas não poderia perder a oportunidade de conhecer melhor esse país que têm a população do tamanho da de Belo Horizonte mas com certeza com muito a oferecer.


Izziepoop

                                                         Izziepoop, vervet monkey


                                                                   Filhotes de Betty
                                                                          Atheno

Trekking, procurando os animais selvagens

                                                                Abuh, baby baboon


 Contribuindo com a comunidade dos bushman




                                                                      A despedida

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Choque de realidade

Às vezes na rotina do dia a dia, acordar, café da manha, preparar a comidas dos animais, limpar, alimantá-los, levá-los pra passear, fazer pesquisa, tour, etc,  a gente quase esquece que está na África. Mas aí algo acontece para nos lembrar.
Na última sexta feira os novatos chegaram em um dia nada normal.  Toda sexta, nós veteranos pregamos alguma peça neles como uma forma de boas-vindas, já tveram que comer comida de babuíno, ao fingirmos que era um prato tipico daqui, já foram recebidos por nós enxarcados em sangue fingindo termos acabado de ser atacados, enfim coisas inocentes para quebrar o gelo do primeiro encontro. Nessa última sexta a piada era: chegarmos todos correndo com cara de assustados dizendo que havia um leopardo solto pela vila , e para tornar a cena mais real levar um dos leopardos filhotes e super dócil junto! Mas é claro, “the joke was on us!”. Antes de podermos pôr o plano em ação, fomos notificados que um dos leopardo selvagens, adultos e no momento extremamente furioso tinha fugido do seu cercado e estava a solta pela vila!
Primeiramente quando  essa notícia chegou acho que ninguém realmente entendeu a magnitude da situação. Então seguimos para vila dos voluntários para conhecer nossos novos companheiros, jantamos, e então o Jaco, (lê-se Iacu) nosso chefe chegou extremamente sério. Nos avisou que o  leopardo de nome Lost (irônico!) estava sumido. O Jaco, na companhia de + 6 pessoas passara a tarde tentando capturá-lo, Lost fora atingido 3 vezes por dardos de sedativos mas ainda assim levantou nas três e continuou sua fuga, e no fim da tarde eles encontraram pegadas de Lost indo em direção à nossa vila.  A partir daquele momento estávamos todos proibidos de sair de nossas cabanas, até mesmo para ir ao banheiro.
Na manhã seguinte, Jaco veio nos bauscar com mais 3 pessoas, para nos escoltar à área da preparação dos alimentos dos animais, e podermos assim trabalhar. Felizmente naquela tarde eles conseguiram capturar Lost, infelizmente descobriram que o cercado dela havia sido cortado, a energia desligada da cerca elétrica, permitindo assim que ela fugisse.  No momento fala-se em sabotagem,  por diversos motivos, um deles é que quando os bushman não estão felizes com algo é assim que eles agem, eu particularmente acho uma acusação muito forte para se divulgar, especialmente para os voluntários,  mas a realidade acho que não descobrirei antes de ir embora.
Devo admitir que foi uma das noites mais assustadoras da minha vida, seguida de um dos momentos mais maravilhosos que eu tive aqui, que aconteceu na manhã em que fomos escoltados para o trabalho. Ao sermos liberados para sair das cabanas, enquanto esperávamos todos aparecerem, olhei para trás e as 4 girafas que eu vi na distância em uma das minhas primeiras noites estavam a poucos metros de nós, andando juntas, parando para comer algo, e trocando olhares curiosos em nossa direção.
Em menos de 15 horas eu fui lembrada do aspecto tão perigoso e em seguida do aspecto tão maravilhoso que é a África.


Episódios animais

Trabalhar com animais selavgens nos deixa suceptíveis a imprevistos e acidentes. Comigo já aconteceram alguns.
Os animais apesar de “domados” , claro, mantém suas características e instintos selvagens. Suas brincadeiras machucam, e muito, e seu comportamento pode mudar drasticamente em questão de segundos, incluindo os animais mais queridos e  carinhosos mas o importante é nunca levar pro lado pessoal  
Outro dia fui caminhar com Dolce e Gabana, uma dupla de leopardos jovens e hiperativos. Existem certas áreas na reserva específicas para esses passeios. E quase todos os dias levamos os animais que são mais domado para passear, afim de proporcionar a maior proximidade com a natureza para eles, em certos casos é uma forma deles terem contato com outras vidas selvagens, por exemplo guinus e antilopes, dessa forma desenvolvendo seus instintos de caça no caso dos grandes felinos,  além de ser um exercício a mais. Mas como eu disse imprevistos sempre estão sujeitos a acontecer.
Nessa caminhada com os leopardos, fomos em um grupo de 6 garotas, mas em algum momento 3 delas desapareceram, Dolce foi para um lado acompanhado por uma das voluntárias, e eu fui atrás do Gabana, pois perdê-lo de vista seria extremamente fácil  uma vez que a vegetação africana da região é basicamente de arbustos, o que a torna igual em todo lugar que você olha, e se eu o perdesse , para achá-lo seria “um custo”.  A boa notícia é que eu não o perdi, mas nesse separar dos 2 leopardos todo mundo se perdeu um do outro, e por três horas eu fiquei perdida no meio da savana africana o dia estava ensolarado, por volta de 40°C, sem água ou relógio, apenas com um leopardo, estando sempre atenta para suas brincadeiras perigosas  e ao mesmo tempo atenta para as cobras, que são um perigo aqui, e principalmente para o principal perigo: os enormes espinhos da acácias.



                                         Espinhos das Acácias africanas
    

 
                                                       Gabana

No mesmo dia de tarde estava na jaula da Cloe, uma bauíno de nem 2 anos, ou seja filhote e muito mimada.  Ela tinha acabado de mudar de jaula para uma mais distante e com nenhum animal por perto então estava muito só e triste. Nós voluntários estávamos revesando o tempo entre as tarefas pra ficar com ela,  afim de diminuir sua solidão, e lá estava eu curtindo meu momento com Cloe quando uma outra voluntária chegou e entrou na jaula pra ficar com nós duas; foi quando o caos começou. A menina esqueceu de fechar a jaula! Pecado mortal nesse ambiente de trabalho. Em menos de 5 segundos tudo aconteceu! Quando ela entrou a Cloe que estava no meu colo foi pro  chão, passou pela Celine, viu a porta aberta olhou pra nós duas e saiu em disparada pra “liberdade’.
 O motivo desses animais não estarem em liberdade é porque não é uma opção, no caso ela é um bebê e nunca sobreviveria, e essa falsa liberdade momentânea é um grande perigo pois do lado de fora existem outros animais que podem atacá-los, por exemplo o Atheno, um guepardo na adolescência que ia adorar um pedaço da Chloe, entre outros vários.
Apesar de quase trágico o episódio foi muitoengraçado pois a Celine, em choque pelo erro que acabara de cometer congelou, me olhou com olhos arregalados e pediu desculpas! Eu comecei a rir pela reação dela e ao mesmo tempo  saí em disparada atrás da Cloe e gritando para Celine “Corra para o outro lado, temos que cercá-la”. A Cloe claro adorou aquilo tudo, ela corria olhava pra gnt como que para conferir que estávamos atrás, mudava a direção, dava dribles incriveis em nós duas até que ela cometeu um erro muito perigoso: entrou no cercado dos mongooses, animais pequenos, que lembram um pouco os suricatos. Ao entrar no cercado ela foi imediatamente atacada e desesperada gritando e chorando não conseguia sair. Nesse momento consegui pegá-la e tirá-la de lá, mas ela muito assustada tentou me atacar. Felizmente ela não conseguiu me morder, (um babuíno adulto tem a força de 7 homens e caninos enormes que facilmente matariam uma pessoa, a Cloe é filhote mas sua mordida já é bem potente). E claro que isso tudo estava  acontecendo a 20 metros de onde nosso chefe estava,  ao telefone,   de costas para situação!
De volta a jaula conseguimos acalmá-la e tudo terminou bem.
Mas aqui nem sempre existe um final feliz. Como todo mundo que vem pra cá é apaixonado por animais, a morte de um é sempre sentido por todos.  Infelizmente em uma semana perdemos 2 animais muito queridos. O cactos, que era um burrinho filhote que alimentávamos todo dia, ainda na mamadeira, mas nos últimos 2 dias eu estava em outra tarefa ajudando com limpeza das águas dos animais, e de aluma forma cactos teve leite nos pulmões, morrendo no dia seguinte. O problema maior é que ele foi guardado no cooler para podermos enterrá-lo no dia seguinte, porém os bushman encarregados das carnes não sabiam e alimentaram os wild dogs, cachorros selvagens ,espécie em risco de extinção aqui, com o cactos. Isso foi um choque para todos, aqui não existe “desperdício”!
 E alguns dias depois Romeo, um caracal ou lince-do-deserto, cego e muito dócil, durante a noite foi picado por uma cobra e sem condições de sobreviver teve de ser sacrificado no dia seguinte pois sua pata picada estava necrosando e passando para todo o corpo.
                                             Romeo, lince-do-deserto

Lidamos com vida selvagem, e pode ser bem duro pra nós de coração mole, mas ao mesmo tempo às vezes acontecem coisas mágicas que dão ânimo pra continuar, como ontem por exemplo. Levamos o Atheno para sua primeira corrida. Um guepardo adulto consegue por alguns segundos correr na velocidade de até 120 km/h; como ele ainda é jovem não consegue ser tão veloz mas mesmo assim foi um momento incrível de ver e participar.
 A corrida aconteceu da seguinte forma, eu na garupa de uma caminhonete estava segurando uma longa corda com uma garrafa vazia na ponta, e o Atheno no chão tranquilo. Ele como todo felino, adora brincar com coisas em movimento, então quando o carro começou a andar ele despertou e interessado veio atrás da garrafa no chão. Em seguida o carro começou a correr, e aí o guepardo que existe dentro do Atheno entrou em ação e saiu em disparada atrás. Chegou a 80 km/h!  Se eu viver essa cena aqui de novo várias vezes, tenho certeza que ela sempreserá fantástica, mas por ser a primeira vez na vida do Atheno, é claro que dá “um gosto a mais”!!

                                        Atheno descansando pós corrida

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Imagine esse cenário


Imagine esse cenário: uma fogueira, 20 pessoas ao redor, lua cheia, céu quase escuro mas com aquele resto de  azul  turquesa, e 4 girafas (Giraffa camelopardalis) no horizonte.
Independente das barreiras linguísticas, é impossivel não gostar da África, pelo menos no aspecto da natureza. 
Hoje eu passei o dia com o Atheno, um cguepardo (Acinonyx jubatus) na adolecência muito simpático. Ontem passei a tarde com Izziepoo e Lani, 2 macacos vervet filhotes (Chlorocebus pygerythrus),  a Lani ,bem tímida, e o Izziepoop super brincalhão; e todos os dias acordamos com os rugidos dos leões, Panthera leo, (todo nascer e pôr do sol os leões marcam seus territórios através dos seus rugidos), que apesar de estarem a quilomêtros de distância parecem estar  ao lado, tanto que na minha primeira noite aqui acordei de madrugada querendo ir ao banheiro mas não tive coragem de sair é claro! 
Enquanto ao redor dessa fogueira, ao me dar conta da presença das girafas, eu percebi que independente da afinidade que eu tenho ou deixo de ter com as pessoas ao redor, pelo menos uma coisa em comum nós todos temos e por isso estamos aqui, esse amor imenso pela natureza e em especial pelos animais.
Eu cheguei com certos preconceitos aqui, por exemplo não queria mexer com macacos, meu interesse era voltado para felinos e outros, mas já mudei tanto meus conceitos em apenas alguns dias estando aqui; o Izziepoop por exemplo,  estava com ele ontem (e hoje e amanhã e pra sempre se eu pudesse) e de repente percebi as unhas dele, tão iguais às nossas,  e no meio das nossas brincadeiras ele fez carinho em mim e fez um gesto de pôr a língua para fora e para dentro repetidamente, que pode soar muito  estranho para nós, mas para eles é a mensagem de amor, confiança e uma forma de conexão. Como não amar uma criatura dessas? Ou como não ficar fascinada com um lugar que permite que esses seres indefesos sobrevivam, porque a maioria veio parar aqui por 5 motivos: os “animais problemas” para fazendeiros, animais feridos, antigos “pets” (= pessoas compram filhotes de animais selvagens e quando eles crescem  percebem que eles são grandes, espaçosos, suas brincadeiras às vezes machucam aí elas simplesmente não querem mais, e nesse não querer mais acabam fazendo crueladades com eles), o quarto motivo são os animais órfãos, que na sua maioria perderam as mães para caçadores ou fazendeiros  e por último os nascido aqui na reserva.
Ao mesmo tempo que desses 5 motivos, 4 são causados pelos humanos eu me forço a lembrar que das centenas de animais que vivem na reserva  muitos só sobreviveram graças a outros humanos, os do bem.
 Nosso chefe aqui todo dia nos pede sorrisos, até porque também estamos trabalhando com visitantes e hóspedes, mas têm dias que o cansaço vence e a gente esquece, mas no fundo ele têm razão: a África merece e causa muitos sorrisos.
Eu e o suricato (Suricata suricatta) Adão



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A vida em uma semana

Após uma semana aqui, já posso dizer que sei como o lugar funciona, ao menos para nós voluntários. Não que isso signifique que seja uma rotina constante, porque quando se trabalha com animais tudo pode acontecer [por exemplo dois dos meus maiores medos eram deixar uma jaula aberta por acidente e o animal fugir, e o outro ficar perdida no meio da savana na África com um leão, mas no caso foi um leopardo.  Bom, hoje eles aconteceram, porém isso é assunto para outra hora (só pra esclarecer não foi eu quem deixou a jaula aberta, mas foi eu quem teve que consertar a situação)].
Além do trabalho diário que como citei inclui limpar, alimentar, passear, pesquisar, etc, e que gasta o dia inteiro, durante a semana ocorrem sempre alguns eventos. 
As  quartas aqui são sextas, ou seja, é dia de festa dos voluntário, na sexta os novatos chegam , no sábado temos churrasco de noite e domingo podemos dormir até mais tarde: até às 07:00am.
Quarta é sexta pois  é o único dia que jantamos no refeitório da vila principal , toca-se uma música ambiente ao fundo e antes do jantar é claro: uns bons drinks. E a “festa” tem tema, por exemplo essa semana foi tema de índio e a vestimenta é toda improvisada.
O motivo de ser na quarta é pq é a ultima noite dos voluntários que vão embora na semana. Aqui o sistema funciona da seguinte forma: toda quinta sai um carro pra levar os voluntários que já fizeram o tempo deles aqui e na sexta o carro volta com os novos voluntários. 
Então amanhã receberemos os novatos, e assim a vida continua. 
Ah! E só pra constar, dos 19 novatos (a reserva estará em sua total capacidade), 14 são norueguesas, de novo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Em Noah

Apesar do atraso de um dia cheguei no projeto com um outro voluntário, chamado Thomas da Alemanha.
No total, devem ser  por volta de 35 voluntários, destes , 3 são homens! Ou seja, mulherada em massa pelos animais!!!
As pessoas q trabalham aqui são incrivelmente simpárticas e receptivas, com exceção dos nativos, os bushman, que com algumas exceções são todos bem  reclusos, quase ariscos.
Quanto aos voluntários, também todos simpáticos, porém  cheguei à conclusão que  essa não é a época para fazer esses projetos.  90% das meninas são norueguesas, o que significa que elas ficam em bandos falando sua prórpia língua e isso torna quase impossivel a interação de quem não entende, por exemplo eu! Eu falei que a época é errada pois pelo que eu entendi o grande número de norugueses é porque eles acabaram de formar no ensino médio, e aparentemente lá e em outros países europeus, após a conclusão do ensino médio eles tÊm o "gap year", 1 ano para fazer o que quiserem e descorir qual profissão querem seguir na vida, porém os homens precisam fazer o treinamento militar ao fim do EM,  então as suas respectivas namoradas vão viajar, aparentemente para Namíbia fazer trabalho voluntário aproveitando assim para fugir do inverno intenso da Noruega!!! Além dessas 25 norueguesas, temos 4 alemãs+ o Thomas, e o Robert que adivinham: também é norueguês!
Quem sabe vai ser um aprendizado extra que vou levar comigo, uma nova língua pro currículo.
Quanto à estrutura, a área do projeto divide-se em algumas partes: a vila, que é onde tomamos café,  possui uma área linda pros visitantes, com bar, piscina etc; a vila dos voluntários, onde  jantamos,  e onde localizam-se as cabanas, refeitórios,  e o resto são as jaulas, cercados, fazenda, etc. A reserva é enorme, pelo que li são 8mil ha cercados com vários animais selvagens.
A criadora disso  tudo foi Marieta ver de Merwe, que junto ao marido (falecido) deu inicio ao projeto, hoje referência na Namíbia de lugar onde levar animais feridos, órfãos e por aí vai. Pelo que li a respeito no livro “Alma de leão”,  Marieta jamais diz não a um animal, e talvez seja isso que a torne especial.
Eu já a conheci, mas ainda nã tive oportunidade de conversar com ela; aqui o trabalho é em tempo integral, acordar às 05:30 am e trabalhar até às 19hrs, mas com certeza espero poder conhecê-la um pouco melhor antes de partir. 







 
Refeitório da Vila Principal, onde tomamos café e almoçamos.

  Caminho para Vila dos Voluntários, 1 km na savana.



   Minha cabana, Tswana
  (Todas as cabanas tem nomes das línguas africanas.)

   Banheiro ao ar livre

Chegada em Windhoek

Apesar da viagem turbulenta, avião que não existia etc,  finalmente cheguei. Não no projeto, pois com o atraso da minha chegada eu perdi o transfer oficial que ia buscar todos os voluntários e levar pra Harnas, onde lcaliza-se o Noah’s Ark.
Então hoje passarei a noite em um albergue muito bonitinho em Windhoek- que descobri pronuncia-se Vindúk- chamado Chameleon’s Backpackers.
O albergue fica próximo do centro, é bem tranquilo de chegar.
A cidade pelo pouco que deu pra ver não é grande e é bem  pacata, muito bonitinha, uma mistura de inglesa com algumas construções no estilo holandês.  Ao chegar foi meio estranho pq eu com mnha mochilona no estilo mochileira mesmo, mas com o acréscimo de uma mala gigante de rodinha,  senti olhares discriminando do tipo “q sem noção”! Mas tudo bem, vivendo e aprendendo.
A temática do albergue é viva la África mesmo, os quartos tem até  tema, o meu por exemplo é do chameleon, muito fofo.Tem área de piscina, um bar, e se bater a fome eles ligam pra um delivery de comida para a pessoa.  Os nativos  daqui são muito simpáticas e receptivos pelo que pude perceber, mas o africâner, que loucura! Inglês, italiano, espanhol, francês e etc , mesmo quem não fala sempre entende uma palavra ou outra ou pelo menos sabe identificar qual a língua, mas o africâner é muito diferente! Eu nunca tinha ouvido uma língua tão diferente, essa mistura do holandês africano ficou bem inédita (o africâner na verdade é derivado do holandês, que em contato com outras línguas locais se modificou tendo como resultado final essa língua muito diferente. É falado não só na Namíbia mas também em outros países, um deles a África do Sul, onde a língua é  falada por 18% da população).
Outra coisa muito diferente é a saída da tomada, realmente é necessário comprar um adaptador ,porque o daqui e também da África do Sul é muito específico da região, mas foi bem fácil comprá-lo no aeroporto de Johannesburg, que diga-se de passagem é enorme e lindíssimo. Aliás qualquer coisa que for necessária comprar, eu indico o de  “Joburg”  mesmo, pois o aeroporto de Windhoek é muito pequeno e não tem muito recurso a oferecer.


                        




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Espere o inesperado e o inesperado virá!!

Acho que me precipitei ao gritar aos 4 ventos para Murphy escutar que estaria pulando de cabeça na frase "Espere o inesperado" do projeto. Hoje posso dizer que ela me ouviu!!! E claro a "Lady" não ia deixar barato:  trouxe o inesperado com força!!
Imagine você, mergulhada em um turbilhão de emoções: saudade, amor, tristeza pela distância de quem a  gente ama, empolgação com a viagem (naquele momento mínima porque o foco estava na tristeza, e em todas as forças que eu estava juntando pra não chorar desesperadamente no meio do avião e aeroporto, correndo o risco de assustar todas as criancinhas ao redor, pq quando estamos em casa tudo o que queremos é sair, mas quando a gente sai se sente igual uma criança perdida longe dos pais e dos amigos.), mas voltando, imagine você com essas e outras emoções rolando quando após 4 horas vagando de um lado para outro no aeroporto de Guarulhos finalmente descobre que seu vôo não existe!!!!!! Então esperei e o inesperado veio!!!

Aparentemente os vôos da South African Airlines foram rearranjados há um mês porém minha agência de viagem não me contou!!!!
Felizmente o pessoal da SAA me "enfiou" no próximo vôo, que será daqui uma horas e me mandaram para nada + nada menos q o Marriot, hotel de luxo com tudo pago, inclusive a internet através da qual vos falo. Então o lema oficial do começo dessa viagem é realmente e repetitivamente: Espere o inesperado, porque nas últimas 8 horas eu fui do lixo pro luxo literalmente, e amanhã sabe-se lá onde estarei, tomara que na Namíbia!!

Mas a saudade continua apertando o peito...

Noah's Ark


Trabalho voluntário em poucas palavras  é o conjunto de ações de interesse social e comunitário em que toda a atividade desempenhada reverte a favor do serviço e do trabalho. É feito sem recebimento de qualquer remuneração ou lucro.
As organizações não-governamentais, entre elas as de conservação e cuidados com animais selvagens na África dependem desses voluntários para sobreviverem. E é isso que eu estou indo fazer.

O primeiro projeto que vou participar chama-se Noah's Ark .
Localizado  a 350km a leste de Windhoek (capital da Namíbia), próximo às fronteiras com Botsawana, o trabalho voluntário lá consiste entre outras coisas em preparar e alimentar os animais até 5 vezes ao dia, limpar e cuidar dos filhotes,  limpar os recintos, trabalhar nos reparos necessários de cercas, e estruturas danificadas, construir cercas e acampamentos, ser guia para os turistas e uma das tarefas mais importantes e talvez das mais dificeis a de educar os fazendeiros da região.
Os animais selvagens são vistos como “animais problema” na Namíbia (e em várias regiões da África), graças aos significativos estragos que eles causam às criações de gado, granjas, e à agricultura , e os fazendeiros locais geralmente recorrem ao uso de armas para literalmente  eliminar o problema.  No Noah’s ark trabalha-se para educar esses fazendeiros promovendo o desenvolvimento de soluções positivas para esse grave problema. Além disso, o projeto estabeleceu uma forte e confiante relação com os locais, chamados de bushmen, que vivem nas áreas próximas, compreendendo sua língua, o jeito único que eles vivem e suas necessidades,  afim de ajudar a promover a conservação do meio ambiente em geral.

Baseado no que eu ja pesquisei posso afirmar que a vida lá não é nada glamourosa, pelo contrário é suja e empoeirada, e o lema do projeto  é "Espere o inesperado!"; e é nesse espírito que estou partindo hoje de Belo Horizonte , MG, tendo como destino final para os próximos 35 dias: Uma imunda e maravilhosa Arca de Noé.